quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Gastronomia - Recordações


Oii,

Primeiro assistam o vídeo:


Em junho o escritor Antonio Prata publicou essa crônica na Folha de São Paulo. Na época acho que compartilhei no meu mural, mas lembro que fiquei um tempão pensando sobre ela, sobre essa falta que as pessoas fazem, como as pequenas coisas do cotidiano, uma foto, um bilhete, um nada podem fazer a diferença pra quem tem saudades e como os momentinhos da vida se tornam momentões cheios de lembranças.

Hoje, por coincidência, na casa da minha vó, achei uma receita do meu prato favorito quando criança escrita com a letra do meu avô (falecido em 98).
A saudade veio forte, bem forte, mas lembrei do quanto gostava de ver minha tia, irmã dele e falecida em 2002, cozinhando e também como cozinhar era a atividade preferida deles (comer também, o que punha na mesa ia embora, aprendi a não ter frescuras de nada com eles).
Minha vó não deixou eu levar a receita comigo, mas tirei uma foto.



Receita de Chichibarat

Dessas saudades e voltando à crônica lembrei como a gente vem perdendo esses momentos em família.
Quem se lembra quando foi a última vez que fez um genuíno almoço de domingo em família com receitas tradicionais e todos os pratos feitos em casa? Desses almoços que começam na compra do mercado no sábado e terminam no domingo fim de tarde?
Ou quem se lembra da última refeição feita com os membros da casa (família ou não, as pessoas que moram com você) em que todos se sentaram na mesa, comeram e conversaram sem pressa, sem mexer no celular, sem postar uma foto no instagram?

Uhmmm aniversário! Tia Alice cortando o bolo que a gente tinha feito.

A alimentação, desde os primórdios da humanidade, sempre foi um fator de agregação social: os homens se juntavam, pois sozinhos não conseguiam caçar ou coletar alimentos suficientes.
As primeiras sociedades surgiram em torno da alimentação. Durante anos a refeição foi um momento sagrado entre as famílias, nelas ocorriam a partilha (tanto do pão quanto do dia vivido), alianças e rompimentos foram feitos nesses momentos.

E agora? O que aconteceu com essa tradição?
Exceto ocasiões especiais não temos mais esses momentos de partilha em volta da mesa. E, se temos, estamos mais preocupados em registrar o momento para que todos saibam do que realmente em desfrutá-lo.
A refeição cotidiana se tornou apenas o momento para matar a necessidade fisiológica por alimentos. Estamos alimentando apenas o corpo, esquecendo da alma.

Voto por um movimento pela volta da partilha na mesa, de contarmos os bons e maus momentos. Melhor dizendo, voto pela partilha na cozinha, afinal, uma boa refeição começa na escolha da receita.
E, te desafio a se juntar com mais uma, duas, três, quantas pessoas conseguir a fazerem essa partilha: escolham as receitas, comprem os ingredientes, cozinhem juntos, comam, conversem, bebam, riam e chorem. Tirem fotos, guardem esses momentos, mas, por favor, não quero fotos na internet, guardem-nas para si, imprimam-nas e escrevam-se dedicatórias. O que vamos levar da vida é isso: essa partilha, esse momento. E, como disse o taxista, ter fotos do cotidiano mata muito mais a saudades do que foto de festa e casório.

Vô Chaim no seu lugar preferido. Acho que o taxista ia gostar ter uma foto dessa da mulher dele.


Voltando a minha receita, assim que achar todos os ingredientes, farei a receita. Mas vem o medo de não dar certo e "estragar" meu prato favorito, de quebrar aquela lembrança sagrada do sabor da coalhada com hortelã e carne de cordeiro em pequenas bolinhas de massa de esfiha.

Incrível. Tem algo, bem aqui dentro, dizendo que, sim, vai dar certo e que eu não estarei sozinha cozinhando: o vô Chaim e a tia Alice estarão comigo.

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