Particularmente, acredito que existe
um encanto muito peculiar em pequenas vinícolas. A medida que vão se tornando
muito grandes, são poucas as que conseguem manter os valores de seus primeiros
produtores. Algumas até conseguem adotar um crescimento inteligente e
consequentemente se manter fieis às histórias de seus vinhedos e vinhos, mas são
muito difíceis de encontrar. Afinal, existe a pressão de investidores que
exigem alta rentabilidade, do mercado que exige preços baixos e da própria
inconstância da natureza que pode castigar uma safra inteira num ano específico.
Esses fatores podem mudar completamente o estilo da produção de um vinho.
A verdade é que as pequenas vinícolas
pagam preços altíssimos (monetários ou não) para conseguirem defender seu charme
artesanal. Existe muito trabalho duro, criatividade sem limites e carência de
tecnologia de ponta (na maioria das vezes inacessível por conta dos altos
investimentos necessários). No início, o micro produtor muitas vezes obtém
apenas os materiais essenciais para operar, e então, ano após ano, ele vai
adicionando o que é capaz. Para compensar o equipamento que lhe falta, é
preciso colocar um pouco mais de empenho no processo de vinificação.
Vou lhe contar um caso que conheci na bodega
argentina chamada Roberto Bonfanti, pequena e familiar. Essa vinícola, que está
localizada no pé dos Andes, na cidade de Mendoza, produz artesanalmente um dos
melhores vinhos que experimentei na região. Ali nas proximidades de seu encurtado
vinhedo existem centenas de outras bodegas, grandes e pequenas, todas no
mesmíssimo “terroir”. O problema é que as grandes estão muito melhor preparadas
para enfrentar nevascas inesperadas, desenvolver estratégias de preço mais
agressivas para seus vinhos, ter a possibilidade de receber grupos maiores para
enoturismo, entre outros fatores. Conversando com o filho do Roberto Bonfanti,
que também trabalha com seu pai na bodega da família, ele me contou que vários
companheiros (também pequenos produtores) deixaram de fazer rótulos próprios
para vender suas uvas aos grandes produtores. Eles foram obrigados a abandonar
as histórias de seus vinhos para conseguir sustentar suas famílias com a venda
de uvas que serão utilizadas na produção de vinhos mais massificados, o que é
uma pena pra pessoas como eu, que adoram experimentar novos rótulos e valorizam
a diversidade.
Quero deixar claro que este artigo não
tem a intenção de discriminar grandes produtoras, afinal conheço muitas
vinícolas de grande porte fazendo um excelente trabalho e vinhos
admiráveis. O que reforço aqui é o valor
do pequeno produtor, cuja motivação se alimenta de sua paixão pela cultura
vinícola e do resultado final de seus vinhos preciosos que degustamos em nossas
mesas.
Texto de Rodrigo Ferraz – Sócio-Fundador
da Confraria Vinhos de Bicicleta
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