sexta-feira, 28 de junho de 2013

Enofilia - As pequenas vinícolas










Particularmente, acredito que existe um encanto muito peculiar em pequenas vinícolas. A medida que vão se tornando muito grandes, são poucas as que conseguem manter os valores de seus primeiros produtores. Algumas até conseguem adotar um crescimento inteligente e consequentemente se manter fieis às histórias de seus vinhedos e vinhos, mas são muito difíceis de encontrar. Afinal, existe a pressão de investidores que exigem alta rentabilidade, do mercado que exige preços baixos e da própria inconstância da natureza que pode castigar uma safra inteira num ano específico. Esses fatores podem mudar completamente o estilo da produção de um vinho.
A verdade é que as pequenas vinícolas pagam preços altíssimos (monetários ou não) para conseguirem defender seu charme artesanal. Existe muito trabalho duro, criatividade sem limites e carência de tecnologia de ponta (na maioria das vezes inacessível por conta dos altos investimentos necessários). No início, o micro produtor muitas vezes obtém apenas os materiais essenciais para operar, e então, ano após ano, ele vai adicionando o que é capaz. Para compensar o equipamento que lhe falta, é preciso colocar um pouco mais de empenho no processo de vinificação.

Vou lhe contar um caso que conheci na bodega argentina chamada Roberto Bonfanti, pequena e familiar. Essa vinícola, que está localizada no pé dos Andes, na cidade de Mendoza, produz artesanalmente um dos melhores vinhos que experimentei na região. Ali nas proximidades de seu encurtado vinhedo existem centenas de outras bodegas, grandes e pequenas, todas no mesmíssimo “terroir”. O problema é que as grandes estão muito melhor preparadas para enfrentar nevascas inesperadas, desenvolver estratégias de preço mais agressivas para seus vinhos, ter a possibilidade de receber grupos maiores para enoturismo, entre outros fatores. Conversando com o filho do Roberto Bonfanti, que também trabalha com seu pai na bodega da família, ele me contou que vários companheiros (também pequenos produtores) deixaram de fazer rótulos próprios para vender suas uvas aos grandes produtores. Eles foram obrigados a abandonar as histórias de seus vinhos para conseguir sustentar suas famílias com a venda de uvas que serão utilizadas na produção de vinhos mais massificados, o que é uma pena pra pessoas como eu, que adoram experimentar novos rótulos e valorizam a diversidade.

Quero deixar claro que este artigo não tem a intenção de discriminar grandes produtoras, afinal conheço muitas vinícolas de grande porte fazendo um excelente trabalho e vinhos admiráveis.  O que reforço aqui é o valor do pequeno produtor, cuja motivação se alimenta de sua paixão pela cultura vinícola e do resultado final de seus vinhos preciosos que degustamos em nossas mesas.



Texto de Rodrigo Ferraz – Sócio-Fundador da Confraria Vinhos de Bicicleta

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