Afinal, qual é
a alma do vinho? Se o vinho fosse uma pessoa, por exemplo, qual seria sua
personalidade? O que faz essa bebida ser tão carregada de conceito e paixão? Em
minha humilde opinião, o vinho é a lealdade engarrafada.
Quando digo lealdade
não me refiro somente aos momentos de desgosto recorridos à embriaguez, mas também
ao deleite de um encontro com os amigos, de uma noite a dois ou simplesmente de
uma degustação solitária e serena em casa. Para essas ocasiões eu conheço um par
perfeito: a boa e velha garrafa de vinho.
Em minha vida
já tive algumas bebidas amantes, para fases peculiares. Lá na adolescência, a
vodka me trouxe lembranças extraordinárias, ou melhor dizendo, me trouxe noitadas
extraordinárias, mas literalmente lembranças nem tanto. Todavia, a euforia
dessa idade passou e a vodka pegou carona com ela. Daí vieram as cervejas, que
estão comigo até hoje eventualmente. Aceitei de todos os tipos, desde as mais
populares até as maravilhosas belgas trapistas, refinadas, exclusivas. Fiquei
tão intrigado que cheguei até a estudá-las com mais acuidade. O problema é que,
em certas ocasiões, quanto mais às aprecio mais estufado eu fico.
Quando eu já
tinha um pouco mais de repertório, estava pronto pra uma experiência mais
madura, chegou a vez da garrafa de whisky. Logo de cara passei mal com tanta
robustez, porém aos poucos fui me acostumando a ela; sua elegância sempre foi
singular. Em momentos mais artificiais, quando misturada, era uma excelente
acompanhante para festas. A dificuldade aparece quando ela está legítima (lê-se
pura), sua intensidade é tanta que chega a não agradar alguns de meus círculos
de amizade. Então passei a visitá-la em momentos mais raros e individuais.
Como quem não
quer nada, quem sempre me acompanhou em todos esses momentos foi a garrafa de
vinho. Ela amadureceu comigo; quando eu passei a entender mais da vida, ela
também ficou mais rebuscada. Para mim, essa bebida remete à nostalgia de bons
momentos e viagens, onde ela sempre cumpriu o seu papel de maneira fiel. Com o
abrir dos anos e algumas garrafas de experiência, vem crescendo minha saudável
admiração por ela: minha companheira oficial.
Texto de Rodrigo Ferraz –
Sócio-Fundador da Confraria Vinhos de Bicicleta
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