sexta-feira, 14 de junho de 2013

Enofilia - A companheira ideal, a garrafa de vinho










Afinal, qual é a alma do vinho? Se o vinho fosse uma pessoa, por exemplo, qual seria sua personalidade? O que faz essa bebida ser tão carregada de conceito e paixão? Em minha humilde opinião, o vinho é a lealdade engarrafada.
Quando digo lealdade não me refiro somente aos momentos de desgosto recorridos à embriaguez, mas também ao deleite de um encontro com os amigos, de uma noite a dois ou simplesmente de uma degustação solitária e serena em casa. Para essas ocasiões eu conheço um par perfeito: a boa e velha garrafa de vinho.
Em minha vida já tive algumas bebidas amantes, para fases peculiares. Lá na adolescência, a vodka me trouxe lembranças extraordinárias, ou melhor dizendo, me trouxe noitadas extraordinárias, mas literalmente lembranças nem tanto. Todavia, a euforia dessa idade passou e a vodka pegou carona com ela. Daí vieram as cervejas, que estão comigo até hoje eventualmente. Aceitei de todos os tipos, desde as mais populares até as maravilhosas belgas trapistas, refinadas, exclusivas. Fiquei tão intrigado que cheguei até a estudá-las com mais acuidade. O problema é que, em certas ocasiões, quanto mais às aprecio mais estufado eu fico.
Quando eu já tinha um pouco mais de repertório, estava pronto pra uma experiência mais madura, chegou a vez da garrafa de whisky. Logo de cara passei mal com tanta robustez, porém aos poucos fui me acostumando a ela; sua elegância sempre foi singular. Em momentos mais artificiais, quando misturada, era uma excelente acompanhante para festas. A dificuldade aparece quando ela está legítima (lê-se pura), sua intensidade é tanta que chega a não agradar alguns de meus círculos de amizade. Então passei a visitá-la em momentos mais raros e individuais.
Como quem não quer nada, quem sempre me acompanhou em todos esses momentos foi a garrafa de vinho. Ela amadureceu comigo; quando eu passei a entender mais da vida, ela também ficou mais rebuscada. Para mim, essa bebida remete à nostalgia de bons momentos e viagens, onde ela sempre cumpriu o seu papel de maneira fiel. Com o abrir dos anos e algumas garrafas de experiência, vem crescendo minha saudável admiração por ela: minha companheira oficial.


Texto de Rodrigo Ferraz – Sócio-Fundador da Confraria Vinhos de Bicicleta

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